domingo, 7 de outubro de 2012

Qual a diferença entre a publicidade e o funk?

Bom, quem esperava um post comparativo ou pejorativo, peço desculpas mas não é bem nisso que pensei. Tanto por conta da publicidade, afinal de contas sou publicitário, quanto pelo funk, que passei a compreender um pouco melhor por conta da publicidade, e inclusive a descobrir letras significativas que retratam a vida, o sifrimento e uma visão de mundo que certamente iterage com a propaganda que fazemos.

Quantas crianças, ditas "menores" não buscam a felicidade num tenis de marca, numa roupa de marca? Mais velhos, a buscam num carro, num cordão de ouro?

Sabe aquele herói da publicidade, bem vestido, em seu carro esportivo vermelho (o do cavalinho), com sua camisa polo (a do jacarezinho) e seu relógio caro (virou cordão de ouro)...

E sabe aqueles filmes psicodélicos, aqueles desenhos malucos onde você vê a cinderela deformada virando um monstro, o principe virando o drácula...

Veja então o herói virando mano... o relógio de marca virando cordão.... a camisa de marca enrolada na cabeça, pra tapar o rosto... o carro de marca todo tunado, virando carro de fuga... e veja um fuzil banhado a ouro, coisa que nenhum estilista frances sonhou em conceber.

Deve ser fácil ver que isso é uma aberração... Deve ser fácil julgar... Imagina esse cara numa propaganda, destruiu todo o sentido do sonho que alguma marca criou...

Sonho...

Fácil julgar...

É fácil pra quem nunca sentiu preconceito na vida... quem nunca quis ter algo "de marca" pra se sentir "de marca", se sentir "incluido". E a dor de se sentir excluido às vezes quebra regras... quebra até a tal piramide de Maslow...

A mensagem do sonho chega na favela como uma aberração... O sonho vira um pesadelo que cega... E um tenis "da moda" passa a valer mais do que a vida.

Um tenis, um cordão, um carro... parando de pensar no que se faz pra conseguir isso, pensemos no comportamento do consumidor: Se alguém que tem pouco conquista algum dinheiro, porque não busca uma vida melhor, busca algo que realmente lhe dê prazer, lhe mude a vida ao invés de gastar em coisas secundárias? Porque muitas vezes se troca uma refeição melhor, um passeio, até mesmo saneamento básico por uma marca?

Porque quando a dor de não ser se aproxima da dor de viver, pra sanar essa dor se faz loucuras. E ai se encontram pensadores como Mano Brown, Menor do Chapa e Oliviero Toscani... vendo pessoas que buscam um sonho irreal.

O tenis, o cordão, o carro... não vão te fazer melhor... E dependendo das opções que você faça para conseguí-los, vão te fazer pior.

Um simbolo não é nada sem ter o porque... O maior simbolo de uma pessoa é ela mesma. Por mais que numa abstração coletiva o mundo hoje pense que ter é mais importante que ser... ainda creio que o mais importante seja o ser.

Não há diferença, a publicidade que cria sonhos se encontra com o Funk, o funk não comercial, o com letras de RAP... e com o RAP. Por vezes na dor do sonho que se tornou pesadelo... e espero que se encontre nas crônicas dos muitos meninos e meninas pobre que venceram na vida, seja nos ringues, no futebol, na música e inclusive nas letras... ... e que hão de se tornar heróis de novos sonhos... não mais sonhos utópicos como os criticados por Toscani... Sonhos reais, acessíveis e que realmente simbolizem o ser... mais que o ter.

Ser...

"Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci. E poder me orgulhar, de ter a consciência que o pobre tem seu lugar".

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